Cidade

O início do povoado

Andirá teve como início da sua fundação o ano de 1.927, quando aconteceu o prolongamento da estrada de ferro, da então Rede Viação São Paulo-Paraná. Construiu-se naquela localidade, uma estação com o nome de Ingá (fruta silvestre abundante na região), nas terras de Bráulio Barbosa Ferraz. O pioneiro, na ânsia de prosperar com o progresso advindo dos trilhos de aço, dividiu em lotes cinco alqueires, aproximadamente, expondo-os à venda, dando início ao núcleo urbano.

Chegam os primeiros colonizadores do povoado

Em 1.928, chegaram os primeiros colonizadores do povoado que ia se formando ao redor da pequena estação de trem. Segundo registros históricos, foram as famílias de Carlos Ribeiro da Silva, Manoel Messias da Silva, Raul Vaz e seu irmão Ramiro Vaz, Júlio Possagnolo e a família de Dona Maria "Cearense", a primeira parteira do povoado. Vieram também as famílias Bonacin, Zanoni, Cavenaghi, Simoni, Zafanelli e os Barbosa Ferraz, e muitas famílias foram chegando depois. Estas famílias estão até hoje em Andirá, representadas pelos seus descendentes.

O povoado de Ingá é elevado a categoria de Vila

Através do Decreto-Lei Estadual número 347 de 30 de março de 1.935, o povoado de Ingá foi elevado a categoria de Vila, com a criação do Distrito Jurídico e a instalação do Cartório, pertencente ao município de Cambará.

A emancipação política de Ingá - Nasce o Município de Andirá

O evento histórico e inesquecível para a população local foi a emancipação política de Ingá, com o desmembramento da Comarca de Cambará, através do Decreto-Lei nº 199, de 31 de dezembro de 1.943, assinado pelo Interventor Manoel Ribas. Nascia então o município com o nome de Andirá.

O primeiro comício político da história da cidade

Este fato, do desmembramento da Comarca de Cambará foi transmitido aos andiraenses já no dia seguinte, 1º de janeiro, para a multidão que se juntou na frente do primeiro prédio (sobrado) construído na cidade pelo Sr. Júlio Possagnolo. Da sacada do sobrado, o Dr. Aldezirio Marins, acompanhado de todos aqueles ilustres companheiros que lutaram pela emancipação (Srs.Virgínio Rosário, Oscarlino Carvalho Duarte, Euclydes Casimiro Teixeira, José Miranda e tantos outros) explicou ao povo como se sucedera o desmembramento e o quanto o fato político vivido significava para o novo município e como a política municipal iria se comportar dali para frente.

Este ato foi, provavelmente o primeiro comício político da história da cidade, na sacada do prédio onde hoje é o Banco Bradesco, que pertencia ao Sr. Said Abib e foi durante muitos anos o primeiro hotel de Andirá, hospedando muitos viajantes que por aqui passavam.

A instalação da Comarca de Andirá e o primeiro Juiz de Direito

Em 30 de janeiro de 1.949 foi instalada a Comarca de Andirá, por ter sido elevada a esta categoria através da Lei Estadual nº 93 de 14 de dezembro de 1.948, sendo então o primeiro Juiz, o Dr. Marino Bueno Brandão Braga, tomando posse em 11 de julho de 1.949, nomeado pelo Decreto Governamental nº 7.099 de 31 de maio de 1.949.

O primeiro prefeito municipal e seus sucessores durante o período do Estado Novo de Getúlio Vargas

Andirá teve como primeiro prefeito municipal, seu fundador o Sr. Bráulio Barbosa Ferraz, cuja administração foi exercida no período de 14 de janeiro a 15 de dezembro de 1.944.

Sucederam-lhe depois:

  • Capitão Manoel Alves do Amaral no período de 16 de novembro de 1.944 a 11 de maio de 1.945
  • Moacyr Corrêa de 12 de maio de 1.945 a 27 de novembro de 1.945
  • Erasmo Canhoto de 4 de dezembro de 1.945 a 15 de março de 1.946
  • Vergínio Rosário, de 16 de março de 1.946 a 3 de dezembro de 1.947

A primeira eleição por voto secreto e universal para prefeito e vereadores

Há cincoenta e quatro anos atrás, a população andiraense elegia pela primeira vez, através do voto secreto e universal, o seu prefeito municipal. Após o término do perído denominado de Estado Novo, em que Getúlio Vargas dominou a política do país por mais de 15 anos, Andirá assim como o país inteiro vivia momentos de democracia. No dia 16 de novembro de 1.947, o povo foi às urnas e consagrou o Sr. Moacyr Corrêa como seu primeiro prefeito municipal, juntamente com uma Câmara Municipal composta por nove membros: Srs. Gildo João Zafanelli, Luiz Bonacin, Altair Ramos dos Santos, Sebastião Ferreira de Resende, Álvaro Andrade Margotto, Eurides Brandão, Humberto Possagnollo, Cândido Bertier Fortes, Luiz França Borges Ribeiro.

Bráulio Barbosa Ferraz - A saga de uma família

Primeiro prefeito de Andirá, pioneiro em todos os sentidos. Sua história, entretanto, começa muito antes. Começa como a dos bandeirantes que cruzavam grandes rios em busca de novos lugares, demarcando terras e fundando vilas. Várias cidades que hoje têm importância econômica por fatores de localização e fertilidade da terra, foram abertas em propriedades primeiramente pertencentes ao Major Antonio Barbosa Ferraz Junior e depois a seus filhos Bráulio e Leovegildo.

Mas o pequeno trecho da história que se segue é a de Bráulio Barbosa Ferraz.

No meio da mata, Bráulio abriu um picadão, por onde começou a chegar a região. Processo usado para unir Andirá a Cambará, na época apenas duas pequenas vilas.

A Estrada de Ferro São Paulo-Paraná pertenceu a família Barbosa Ferraz até 1.925, com a concessão de uso do trecho entre Ourinhos e Guaíra. O espírito empreendedor da família fez o progresso da região. Bráulio teve participação ativa na vida pública, participando da Revolução de 1.930, que colocou Getúlio Vargas no poder, exerceu cargos administrativos como representante dos agricultores.Por decreto de 7 de janeiro de 1.944, de Interventor Manoel Ribas, Bráulio Barbosa Ferraz foi nomeado para exercer o cargo de prefeito municipal de Andirá, por ser um importante fazendeiro da região e cidadão dotado de todos os predicados nobres e de dinamismo admirável.

Do pioneirismo da família constam a fundação de várias cidades como Cambará, Andirá, Cornélio Procópio, Leópolis, Sertaneja, Rancho Alegre, Ivaiporã, Jardim Alegre e São João do Ivaí.

Educação - A primeira escola de Andirá

Desde a primeira escola de Andirá, o "Grupo Escolar Ingá" (atual Escola Municipal Ana Nery), o setor de ensino, no município, tem muita história para contar.

O Grupo Escolar de Ingá foi construído em um terreno doado pelo pioneiro Bráulio Barbosa Ferraz. Inaugurado em 19 de abril de 1.943, no governo do Interventor Manoel Ribas, essa unidade escolar teve como seu primeiro diretor o professor Mário Brandão Teixeira Braga. Nessa época, Andirá ainda era Ingá e pertencia como Distrito à Comarca de Cambará.

Com essa escola, o distrito recebeu um grande impulso e incentivo aos moradores daquela época. Embora servisse para ensinar apenas as primeiras letras, ou seja, até o que se denomina hoje a quarta série do primeiro grau, muitos dos que hoje moram em Andirá, constituíram famílias, formaram-se profissionalmente, devem ao Grupo Escolar de Ingá a eterna gratidão aos professores que alí lecionaram.

Pioneiro dá nome à segunda escola do município

A segunda unidade de ensino escolar de Andirá, foi inaugurada no início de1.949, na administração de Moacyr Corrêa, o primeiro prefeito eleito do município. Chamava-se Ginásio Municipal de Andirá.

Inicialmente administrado pela prefeitura, em 2 de dezembro de 1.949, o estabelecimento foi estadualizado, passando a chamar-se Ginásio Estadual de Andirá. Em 9 de novembro de 1.955 passou a denominar-se Ginásio Estadual Barbosa Ferraz. Seus primeiros diretores foram o promotor público Pergentino de Mello Filho e o professor Michel Kairalla. Hoje, o estabelecimento leva o nome de Escola Estadual Barbosa Ferraz - Ensinos de 1º e 2º Graus, Regular e Supletivo.

A primeira escola de ensino de 1º e 2º Graus

A terceira unidade escolar mais antiga de Andirá, foi fundada em 11 de julho de 1.954, na gestão do prefeito Orlando Urizzi, com o nome de Escola Técnica de Comércio Euclides da Cunha. Seu primeiro diretor foi o professor Benjamim Monteiro da Silva. Atualmente a escola chama-se Colégio Estadual Durval Ramos Filho - Ensino de 1º e 2º Graus.

Muitos professores e profissionais liberais, passaram pelos bancos escolares da Escola Técnica de Comércio Euclides da Cunha. Um dos seus professores mais ilustres, dentre tantos que por ali passaram destaca-se o hoje Desembargador Cláudio Nunes do Nascimento, na época Juiz de Direito da Comarca de Andirá.

Os primeiros professores de Ingá

Os primeiros professores de Ingá foram a Sra Catarina Quechi Ramos (Lenira) e seu marido Sr. Arcílio Ramos.

O precursor do magistério foi o professor João Alves Neves que chegou a Andirá em 1.930, ainda solteiro, em companhia dos tios formadores de café, a pequena povoação de Ingá estava em seu início, com poucas casas, umas três ruas, sem água encanada, sem luz elétrica, sem conforto algum. Em princípio foi trabalhar na lavoura e depois instalou uma pequena escola particular e começou a trabalhar no escritório da Fazenda Nova Esperança. As dificuldades eram muitas, faltavam estradas e meios de locomoção. No ano de 1.945, ele e sua esposa Dona Mari Carmita foram nomeados professores, sendo ele um dos primeiros professores da zona rural. Cinco anos mais tarde, mudou-se com a família para a cidade. Atuou também como um dos primeiros jurados e juiz de paz, atuou de forma exemplar na formação de catequizandos e a serviço leigo da Igreja Católica.

Como foi a independência de Andirá da Comarca de Cambará

Podemos comparar a história de Andirá, a sua emancipação política, com a história do Brasil, quando de sua independência de Portugal.

O pequeno distrito de Ingá, desde sua fundação pelos idos de 1.927, estava ligado politicamente ao Município e Comarca de Cambará, contribuia com os impostos e tudo o que a metrópole precisava. Tudo era empregado para a melhoria e progresso de Cambará, para o pequeno distrito nada sobrava: nem escolas, nem calçadas, nem água, iluminação deficiente, e o pior, não tinham seus habitantes o direito a qualquer participação na vida política e social de Cambará.

Em face das injustiças que se acumulavam, começaram a surgir os "inconfidentes". Grupos de homens formados por sacerdote, médico, farmacêuticos, comerciantes, agricultores, e entre eles, muitos maçons, que em reuniões familiares não eram interrompidos por televisão, horários de novelas ou incompatibilidades por preconceitos ou crenças religiosas, onde se compreendiam as convicções de cada um, no campo das liberdades de pensamento, na luta por um mesmo ideal de liberdade, porque todos, sacerdotes ou maçons, pobres ou ricos, cultos ou ignorantes, acreditavam num mesmo Deus e queriam lutar pela emancipação do Distrito de Ingá.

E aí começaram os primeiros vultos a tomar nomes. Surge, então, o Padre Constantino Carneiro que por pouco tempo esteve como vigário naquela época. Homem vindo do Estado do Ceará, muito culto e progressista, foi a pessoa indicada para incentivar o pequeno grupo de idealistas a iniciar a luta pela liberdade. E esse pequeno grupo era formado por Elias Vaz, Osvaldo de Paula Eduardo, Aldezirio Marins, Virgínio Rosário, Antonio Benassi, Orlando Urizzi, José Miranda, Euclydes Casimiro Teixeira, Frederico Tomasetti, Cândido Bertier Fortes e Oscarlino Carvalho Duarte, de Itambaracá.

Empreenderam viagens a Curitiba, enfrentando estradas de terra em carros próprios ou estradas de ferro, onde as viagens duravam 24 horas, com sacrifícios, inclusive financeiros, para entrevistas junto ao Poder Executivo.

Surgiram no Distrito de Ingá na época, os opositores ao movimento de emancipação, levados por interesses particulares e financeiros, e em Cambará levados também pelos mesmos interesses, e como dizer, não querendo perder a galinha de ovos de ouro.

Depois de muitas viagens à Curitiba, muita luta e sacrifício, houve a promessa de que haveria a emancipação, mas com duas condições: o primeiro prefeito do novo município seria Bráulio Barbosa Ferraz e o Estado não arcaria com o ônus da construção do edifício onde deveria ser instalada a prefeitura municipal.

A condição de construir o prédio da prefeitura não representava nada para homens que estavam acostumados a enfrentar dificuldades, e ademais, sabiam que podiam contar com a colaboração do povo que se empolgava com a idéia da emanciapação do distrito. A outra condição, entretanto, os preocupava, pois ficaram sabendo pelo próprio Interventor que a amizade entre ele e o Senhor Bráulio Barbosa Ferraz, por motivos políticos, estava abalada, e essa seria a forma da conciliação.

Gestos de nobreza por parte do Interventor e da parte de Bráulio Barbosa Ferraz, deixaram de lado qualquer ressentimento e ambos encontraram a reconciliação. Com o decreto de 31/12/43, criou-se então o novo município, e, no dia 1º de janeiro, às 15 horas, teve lugar a cerimônia histórica da instalação do Município de Andirá. Depois de ouvido o Hino Nacional Brasileiro, com silêncio e respeito, o Sr. Antonio Benassi, Juiz de Paz em exercício deu início a memorável sessão. Foram convidados para tomar parte na mesa os Srs. Bráulio Barbosa Ferraz, Padre Sebastião Radmacher, Virgínio Rosário, Dr. Aldezirio Marins, Tertuliano Ramos, delegado de polícia, Elias Vaz, Henrique Artigosa e Dr. José Fontes de Noronha.

Com a palavra o orador oficial, Dr. Aldezirio Marins, falou sobre a significação daquela cerimônia, destacou as pessoas pioneiras dessa vitória da emanciapação e exaltou ao Sr. Bráulio no sentido de aceitar o governo do município recém criado. Durante o resto da tarde e à noite continuaram os festejos populares.

Merece especial destaque o oferecimento pela população, do prédio da prefeitura, cuja soma de Cr$76.550,00 fôra subscrevida em poucas horas, pela comissão formada por Bráulio, Virgínio Rosário, Osvaldo de Paula Eduardo e Elias Vaz.O prédio da primeira Prefeitura Municipal, embora não guarde as características arquitetônicas originais da época, atualmente é a Cooperativa Campal, onde também já foi a Indústria de Óleos Andirá S/A - IOASA - e recentemente a Setti Alimentos S/A, em processo de falência judicial.

Texto escrito pela Drª Odila Guide Rosário Marchini - 1.981

 

Pesquisa: Eduardo A. de Melo